O Noctivago
Tum, tum, tum pra la.
Tum, tum, tum pra ca.
Tum, tum, tum e senta.
Tum, tum, tum e nao para mais.
Essa e a vida do nosso vizinho de cima.
O senhor Ozaki chegou do Japao ha um ano e dois meses. Percebemos que ele havia mudado devido ao barulho que parecia o de alguem montando moveis. Ele era incansavel, um homem de ferro martelando, parafusando e arrastando coisas 24 horas por dia, preparando o apartamento para a chegada da mulher, dai a um mes. Ele nao dormiu na primeira semana. E nos tambem nao.
Mandamos uma carta: "ola vizinho, desde que voce se mudou nao conseguimos dormir. Por favor, evite fazer barulho de madrugada!" E deixamos o numero do nosso telefone embaixo. A noite, notamos o recado na secretaria eletronica: "solly, solly, I am soooo solly!". Ingles de japones. Como se nao bastasse, ele bateu na porta no dia em que estavamos fazendo geleia e nos trouxe presentinhos, dois chopsticks e um espelho de bolsa para mim. Agradecemos. Mas o barulho continuou.
Passado um ano, ja estavamos acostumados ao barulho. Ate que uma madrugada em julho o sr. Ozaki exagerou: tum, tum, tum sem parar. As paredes do nosso apartamento - todas de madeira - tremiam, ecoavam os seus passos madrugada a dentro. Furiosa, escrevi uma carta "sr. Ozaki, se quiser ficar andando a noite inteira, mude para um apartamento no primeiro andar!". So que desta vez a critica nao foi tao bem aceita. Ele me respondeu com outra carta. A carta de alguem que nao entendeu nada que eu havia escrito. Acabei deixando para la.
E assim foi. Sempre que escreviamos cartas, os barulhos diminuiam consideravelmente. Ele ainda andava as 2:30 da matina, so que nas pontas dos pes. Passados alguns dias, ele se esquecia e voltava a marchar enlouquecidamente. Apelamos para o cabo da vassoura no teto. Dormiamos com a vassoura ao lado da cama para no caso de qualquer emergencia, era so pegar a vassoura e dar tres batidinhas leves no teto. Ele respondia com um passo furioso no local das batidas e depois se acalmava.
O senhor Ozaki se tornou personagem do nosso dia-a-dia. Nossas conversas antes de dormir sempre giravam em torno dele. "Olha o japones! Ele esta nervoso!" ou "puxa, ate que ele esta calminho hoje. Deve ter recebido noticias do Japao". Uma noite, acordei de um sonho ruim. De olhos abertos, assustada, comecei pensar no pesadelo. E la estava o vizinho, martelando o teto. De repente, ele parou. Sentou - provavelmente na cama pois ele estava no quarto. E a cama ruiu. E ruiu. E ruiu. Uau! Os japoneses estavam fazendo aquilo! Fiquei prestando atencao, enquanto os barulhos ficavam cada vez mais rapidos e intensos. Alguns minutos depois, eles terminaram. E o sr. e a sra. Ozaki nao andaram mais aquela madrugada. E eu voltei a dormir, feliz em ter ouvido, pela primeira vez, uma movimentacao agradavel no andar de cima.
1 comment:
Olá Carol!
Ri até ao ler o texto a respeito do visinho japonês. Hehehehehe!
Rir faz bem!
Fã Um.
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