Thursday, April 27, 2006

News from Brazil

I was talking to my mother on the telephone this afternoon and, to say the truth, I was appalled by the news she gave me (what's interesting is that my mom always has news. She always, doesn't matter how often I call her, always has something to tell me. It's either the ferrets or the weather or even people who passed away - she collects interesting daily things to tell me whenever I give her a call).

But today, I really wasn't expecting that. The news were simply sad. No one died, God forbid, but it was just as depressing. First, I think I hadn't given a thought about the matter of our conversation for maybe a month or so. The problems that were bugging my mind at the time I left my home country were far behind me. I had honestly thought I had gotten rid of them. However, as I said "hello" on the phone, I eventually heard a profound sadness and an unusual lack of joy in her voice. I instantly knew something was tormenting her.

Maybe tormenting is not the correct word... I know she's strong and she actually said she was over it the minute the event in question ended. But as she described everything and the way I pictured things happening, I felt my heart full of anger and grief. I wanted to wrap my arms around her and cry. Cry for not being there. Cry for how distant I am. Cry - just for the sake of it.

As to what happened, there's barely anything I can do. Even if I was home, my hands are completely tied and my mouth finally shut. There are things and people that you just have to let go. And this is a decision I've made, I'll let it go.

Monday, April 24, 2006

Da janela vejo uma arvore cheia de folhas verdes (quase comum nessa epoca do ano). E, no meio da grama, os caminhos de concreto levam e trazem estudantes, mocos e mocas de saia (eles escoceses) e ate criancas de maos dadas num trenzinho desengoncado.

Da igreja vem os blem-blem-blem dos sinos e no predio em frente ao meu, as colunas greco-romanas brancas dao contraste ao predio de tijolos vermelhos. No ceu, nuvens acinzentadas ameacam chuva. Sente-se o vento frio cortando a pele - sim, eu sei, e primavera.

E primavera aqui e e primavera na vida. Sempre me pergunto se a essa altura do campeonato eu ja deveria ter feito mais de mim do que sou. Sera que ja deveria ter feito algo mais que um curso de sociologia e um diploma de CAE? Sim, se tivesse me orientado desde cedo para as recompensas financeiras. Creio que deveria ter tomado uma atitude mais, digamos, capitalista. Porem, eu que sempre curti a vida tranquila, minha casa, meus bichos, meu chao, preferi dividir o meu tempo em aulas e casa. "Olhai os lirios do campo!". Sempre penso nisso.

Na verdade, eu sempre olho os lirios (nao necessariamente eles, mas vejo as arvores) e penso que nada ha de faltar. Mas me confundo quando olho os passaros ou os esquilos: como trabalham! Sempre correndo (ou voando) para la e e pra ca atras de... comida, subsistencia. Sera que eu deveria correr mais? Sera que a dadiva divina so vem para os que estao plantados na terra? Se for assim...

Mas resisto em pensar que o futuro nao sera diferente. Tenho esse pensamento otimista de que tudo vai se arranjar com o tempo. A vida prova que as coisas se organizam da mesma forma que as dores passam: o tempo cura. Ou sera que nos acostumamos com tudo? Seja la como for, vai ser bom. Se o agora e otimo, por que nao ha de continuar assim?

Friday, April 21, 2006

Muitas vezes na vida nos deparamos com pessoas invejosas. E interessante, porque ninguem, mas ninguem mesmo, admite ter tal sentimento. Ninguem chega para o analista e diz: "olha, eu tenho esse problema de inveja... eu morro de inveja de fulano e beltrano, alias eu tenho inveja de todo mundo que tem o que eu nao tenho".

Como mulher, eu sinceramente acho que isso atinge mais o nosso sexo. Afinal, quem e que ja viu um homem que, ao ver o sapato novo do amigo (pra comecar eles nao reparam!) morre de inveja e corre pra um shopping para achar um sapato identico ou parecido ou ainda (a facada final feminina), mais caro? Eu nunca vi meu marido se queixando que este ou aquele amigo dele sao mais magros que ele. Muito menos reclamando que fulano ganha mais e por isso anda mais bem vestido. Isso simplesmente nao faz parte do universo masculino.

Mas no feminino... bem, as coisas sao um tanto diferentes. As comparacoes (vulgo inveja) acontecem em todos os niveis: mae com filha, amiga com amiga e inclusive entre mulheres que nem sequer se conhecem. Mae com filha: "quando eu era jovem, eu nao tinha tanta celulite quanto voce!". Leia-se: "ai que inveja da sua juventude!". Amiga com amiga: "voce acha que emagreceu? imagina! ta a mesmissima coisa!!". Leia-se: "voce esta mais magra que eu - ai que inveja - mas eu vou negar ate a morte!!". Desconhecida com desconhecida (em pensamento): "aquele vestido da patachou ficou o O nela!!", leia-se: "eu teeeeenho que comprar aquele vestido, nem que eu divida em 18 parcelas no cartao!!".

Pois e, fui vitima da inveja de uma conhecida nos ultimos dias. Na verdade, claro, somos sempre vitimas de inveja - afinal, tem sempre alguem pior do que nos mesmos. Alguem olha para uma pessoa obesa e sente inveja? Ou ve um miseravel na tv e gostaria de estar no lugar dele? Por acaso sentimos vontade de ter aquela furreca velha parada na beira da estrada no meio de um toro? Nao, nao e nao. Mas e claro que se vemos alguem magro, lindo, rico e dirijindo um jaguar, rola aquela pontinha de... voce sabe o que.

Segundo a minha mae, devemos fazer de tudo para que os outros nao sintam inveja. Ok, eu juro que tento, mas tem gente que insiste. Diz ela que o melhor jeito e dar gracas a Deus. Explico: quando uma fulana diz "Voce e mais nova que eu e ja e casada (com um meeeedico!!)". A isso, responde-se: "Mas e um milagre! So um milagre explica isso!". "Voce tem a nova gaucho bag!!! E carissima!". De novo: "so Deus explica isso! e como um milagre!". E por ai vai.

Ok entao. A quem morre de inveja do meu rico dinheirinho empregado em um simples corte de cabelo (eu valorizo muito minhas madeixas, que fique registrado), respondo: e um milagre eu ter tido dinheiro para pagar. So Deus mesmo! Aleluia.

Sunday, April 16, 2006

A bi-cicleta

Ontem conhecemos um casal francês, Jean e Danielle.

Ja na faixa dos 60, Jean tem um incrível senso de humor que aniquila qualquer tentativa de conversa intelectual com uma piada irônica (eu achei sensacional!). Ela - como todas francesas - magra, de sotaque maravilhoso, cabelos lisos e sorridente. Os dois, apesar de terem três filhos, se intitulam "recém-casados" e como tambem não conseguiram tirar a carteira de motorista de Maryland, resolveram que uma bicicleta seria um meio de transporte interessante.

Mas com tanto amor e paixao no ar, a bicicleta tinha que ser especial: dois guidons, dois selins e duas rodas. Ele na frente, cabelos brancos ao vento, faróis (a pilha) acesos, pedala com força enquanto ela vai atrás sem nem sequer por as mãos no volante. Eu perguntei se ela nao tinha medo de cair. "Eu tenho total confiança nele", ela me disse.

Insistiram pra que nós fizéssemos uma tentativa. Ok, eu de saia e salto, não era muito bem o que eu imaginava para andar de bicicleta, mas vamos lá. O Michael tinha um pé no pedal e outro no chão e eu coloquei meus dois pés nos encaixes. Ai que medo de cair... eu ja estava me imaginando jogada no chao igual uma boneca abandonada, com a saia levantada e o salto quebrado...

Confiança! Confiança! Os franceses diziam. Lá fomos nós... no vento, na brisa noturna, 1.20 da manhã em Washington, pedalando, pedalando, que bom, eu sorria feliz, confiante no meu piloto, quando: ups! o Michael perde o equilíbrio. Paramos abruptamente. Eu quis continuar mas ele ficou com medo e descemos da bicicleta.

Olhei em volta e nao acreditei: as pessoas na rua tinham parado para ver e diziam "coooooool" e "that's fun!". (De madrugada? Nao muito comum na america.) Enfim chegou a hora de dar tchau e voltar pra casa. Nos beijinhos, Danielle disse: "Riding a bike together is just like being in a relationship: sometimes he pulls and others you have to pull. But you always have to trust each other".

Achei lindo!

Saturday, April 08, 2006

A Raposa

Noite passada tive esse sonho mais pra pesadelo que, da minha janela, eu via uma raposa perseguindo dois furões selvagens (que na verdade eram Brownie e Muffin mas com um cabelinho mais arrepiado). Eu abri a porta e saí de meias, pisando na grama molhada para defender os bichos. Quando eu vi, a raposa tinha se transformado num lobo preto.

Então de manhã eu estava olhando pela janela quando vi uma raposa passeando na floresta, as folhas secas encharcadas da chuva da noite, e os brotos verdinhos em todas as árvores. Ela olhava de um lado para o outro e parecia feliz, satisfeita da vida. Mas em volta dela, a floresta estava muda. Sem nenhum outro bicho por perto, ela seguia num passinho contente.

Não consegui deixar de pensar em mim e nas minhas tardes sozinha. Me ocupo, mas a solidão às vezes arranha a garganta e o peito. Pisando nas folhas amarelas molhadas, corro sozinha, muitas vezes acordo sozinha. Almoço e passo o dia aqui, no silêncio máximo do meu minúsculo apartamento. Mas não deixo de seguir feliz.

Thursday, April 06, 2006

Tem uma coruja na minha janela. Pequena, parruda, bege e branca, butucuda coruja. Essa manhã acordei com o canto de o que pareciam ser 50 passarinhos. Que barulho, levantei e abri as cortinas, todos cantando o que mais pareciam ser gritos (de passarinho), em pleno vôo e quando eu aparecia na janela, fugiam. E começava de novo, aquela passarinhada, todas as cores, tamanhos e tipos, reunidos em volta da rede e da cerca de madeira, cantando o que mais parecia ser um comício político de aves.

Desliguei os ouvidos e saí de casa. Quando voltei, a mesma história, eles não cansam!! Fiz então o meu próprio barulho, num protesto bobo. Liguei o aquecedor, passei aspirador no chão e por fim (eu me canso, afinal sou gente) liguei a música. No topo do volume das pobres "caixas", se é que posso chamá-las assim, do meu laptop, eu ainda ouvia o canto de um passarinho insistente. Resolvi ceder. No Brasil eu raramente ouvia tais cantos, eram só ônibus (que aliás tremiam o prédio todo), buzinas, música alta. Por isso, cedi. Desliguei a música para ouvir a música desta nova fase da minha vida. Uma fase agradável, tranquila, fresca, feliz.

Por curiosidade, olhei pela janela. Lá estava um micro-passarinho, no ar, cabecinha apontada pra cima, literalmente gritando. Pra quê tanta saliência, meu Deus?! Levantei e fui na porta da varanda (de vidro) para ver melhor e lá estava ele, pi pi pi pi pi pi! pi pi pi pi pi pi! Os olhinhos fixos pra cima, um grito de guerra. Olhei pra onde ele olhava e lá eu vi. Majestosa, comparativamente imensa, um olho aberto e outro fechado - a coruja!