Thursday, November 25, 2004

Ele lia aquele livro que não tinha parágrafos. Eu pedia para que ele parasse de ler e ele carinhosamente me dizia que pararia no próximo parágrafo. Kertesz me fez chorar na sala de espera do dentista há uns meses. Fui descobrir depois que eu tinha lido o último livro de uma trilogia. E agora ele lê o primeiro, uma edição bonita, mas com a tradução não muito boa, que ganhou de presente de aniversário. Para de ler, apaga a luz! E me lembro do livro, e das divagaçoes de um autor que consegue refletir sobre a vida triste, marcada pelo holocausto e pelo fato de ter sido o único filho sobrevivente de seus pais. Ele se depara com Schopenhauer e Nietzsche pelo caminho. Tao intelectual o Kertesz... Saul Bellow me fez chorar tambem, em Ravelstein. Amos Oz me deixou aos prantos com Meu Michel. Concluo que o problema está em mim, só pode ser.

Peço mais uma vez para ele desligar a luz. Estou ficando impaciente, quero dormir e essa luz na minha cara. Ele me encosta a mão em mim e fala para eu ter calma... No meu sonho, eu estava caminhando pelas ruas de Jerusalém, com Hana Gonen e seu bebê. Ela encontrava o Michel dela mas o meu havia sumido. Como que fui perdê-lo de vista assim? Olho em volta e nada. Um monte de gente mas ninguém se parece com ele. Abro os olhos e ele esta aí, do meu lado, ainda lendo. Por que ler tanto, Michel? São quase meia-noite. Ele me diz que nao tem sono. Durmo de novo e desta vez vejo Ravelstein em seu casaco Lanvin bege, em frente a uma turma de alunos. Ele ia de Platão a Leibniz. E como ele conhecia Aristóteles! Que mente brilhante! Que fantástico! Como ele consegue associar tudo isso? E que sorte a minha fazer parte disto. Mas acordo de novo, com o meu Michel apagando a luz. Pelo jeito sentiu sono - ou pena de mim em dormir no claro.

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