Wednesday, June 07, 2006

A transitoriedade da vida e como os americanos se sensibilizam com lágrimas (mas não muito)

Costumo brincar com meu marido dizendo que ele tem ancestrais ciganos. Isso não é verdade, mas sinto que ele não para quieto em um lugar, o que me deixa feliz porque já me acostumei com isso e gosto da perspectiva de nunca passar a vida toda em um só lugar, igual uma árvore, grudada no chão. Meu chão, no interior do Rio Grande gaúcho, é um lugar lindo. Mas já não pertenço. Quero mais.

Acontece que essa indas e vindas dão um ar muito transitório à vida. Para qualquer lugar que eu olhe sei que aquela paisagem representa apenas um curto período de tempo. E se faço tal trajeto todos os dias, as chances são de que eu nunca vá me enfadar deste. É sempre novidade, meus trajetos mudam com as estações e eu estou sempre na expectativa da mudança. Adoro a expectativa.

Então houve a expectativa de conseguir finalmente a carteira de motorista. Faltou um documento (o qual enviei para outro departamento do governo) e a oficiala não se sensibilizou com a história. Meu marido sorrindo, com a nova carteira nas mãos, mas eu não, eu precisaria de outro papel. Dispensada, não deixei barato: chorei alto, igual criança, tremendo. Comoção no MVA! Americanos não estão acostumados com a exibição pública de emoção. Me mandaram para a supervisora, onde eu mal conseguia falar. Outra comoção. Policial, supervisor, supervisor do supervisor do supervisor, a tropa toda. Tenha esperança! Um glimpse de esperança, todos disseram. As lágrimas de crocodilo se secaram, o teatro não durou muito (mas eu mereci um Oscar) e a resposta final foi Não.

De novo, isso também é transitório. Desisti da carteira, sou uma fora da lei.

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