Sunday, July 09, 2006



Em memória à minha nona, Antônia Mioranza

Quando eu era bem pequenininha minha mãe me levou para a casa da minha avó. E nós duas estávamos na horta (as hortas dela eram sempre maravilhosas, com caramujos, pés de funcho, laranjeiras e até pé de kiwi!) colhendo a salada do almoço quando ela colheu uma cenourinha, também pequena, especialmente para mim. Ela lavou a cenoura no tanque e me deu. Na primeira mordida, uma dor lancinante me fez gritar: um dente havia se quebrado! Minha mãe me levou embora - sem almoço nem nada - de volta para a cidade onde morávamos e a Nona ficou sozinha.

Eu via a Noneta todos os anos, nas nossas viagens anuais ao Rio Grande do Sul. Ela sempre estava lá, tranquila e recolhida, engraçada do jeito dela. Há 5 anos fui visitar, levando desta vez uma novidade: eu havia me casado e estava levando meu marido. Além disso, estava partindo para uma viajem de 2 anos - a Noneta já estava em seus 83. Na hora da despedida, me lembro que pensei: e se essa for a última vez que a verei? Sem eu falar nada, ela me disse "nos vemos em 2 anos".

E assim foi. Da última vez em que fui ao Sul, lá estava ela, saudável e ativa, mas não tão alegrinha como de costume. Fiquei 10 dias hospedada no quarto de hóspedes com minha mãe, ganhando chá adoçado com mel na cama todos os dias de manhã. Nós passeávamos juntas à tarde, jantávamos juntas à noite. Tiramos fotos na horta, junto às laranjas, ela com uma touca branca, parecia uma duende. Rimos tanto... Ela tentou me ensinar a fazer crochet, cestinhas... tantas coisas. Quando fui embora, me lembro de estar aliviada de sair daquele lugar frio, de voltar pra casa. Não me passou pela cabeça que eu nunca mais a veria.

* uma das fotos que tirei na horta: a noneta e minha mãe, Julho/2005.

2 comments:

Renata said...

Sem muitas palavras para me expressar nestas passagens tão naturais e espancantes, transcrevo uma linda música de Luiz Tatit.
Um grande profundo abraço.

"Sempre que alguém daqui vai embora
Dói bastante mais depois melhora e com o tempo
Vira um sentimento que nem sempre aflora mas que fica na memória
Depois vira um sofrimento que corrói tudo por dentro
Que penetra no organismo, que devora
Mas depois também melhora
Sempre que alguém daqui vai embora
Dói bastante mais depois melhora e com o tempo
Torna-se um tormento que castiga e deteriora
Feito ave predatória, depois vira um instrumento de martírio virulento
Uma queda no abismo que apavora
Mas depois também melhora
Fica uma força inexplicável
Que deixa todo mundo mais amável
Um pouco é conseqüência da saudade
Um pouco é que voltou a felicidade
Um pouco é que também já era hora
Um pouco é pra ninguém mais ir embora
Vira uma esperança (...)"

Caroline W. said...

Linda a música...