É melhor ser alegre que ser triste
Eu sinto um vazio quando telefono para a minha mãe e a secretária eletrônica atende. Sinto o vazio quando a minha casa está organizada e fico sem nada para fazer. Sinto o vazio no trem cheio de manhã. E mais vazio ainda no trem de volta para casa, cansada, à tarde. Me sinto sozinha no carro, saindo da estação. Tanta gente, tantos carros em volta e não conheço ninguém. Ando na rua e não vejo rostos conhecidos, conheço meia dúzia de almas (penadas?).
Enquando o sol esturrica minha pele entre o cabelo e a camiseta, a tinta do jornal que eu carrego vai toda para os meus dedos. Escondo as mãos no metrô - o que vão pensar de uma mulher descabelada e com dedos pretos? O banho que tomo então serve como uma desinfecção. Meu médico me mandou tomar banho com sabonete anti-bactericida devido ao meu contato com crianças. Os bancos do transporte público são bem nojentos também - isso é conclusão minha (mas deveria ser senso-comum). Existe senso-comum?
Vazia, mas plena, concluo. Porque não há como ser vazia e feliz (do mesmo jeito que o que está vazio não pode estar cheio... mas deixa pra lá, a vida é cheia de contradições). Então penso, vivo em um dilema interno: sinto um espaço em branco dentro de mim mas outros labirintos, salinhas e salões meus são cheios de amor, carinho, memórias, alegrias. Essa solidão que me acompanha durante o dia vai embora assim que o telefone é atendido por uma voz humana e calorosa a milhares de quilômetros de distância.
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