O Acampamento
Nunca vi o Michael tao feliz: ele leu um livro inteiro "Hiking & Backpacking", comprou os sleeping bags (que se juntam e viram um de casal!), armou e re-aplicou silicone nas costuras da barraca 3 dias antes da "expedicao", planejou o menu e ate conseguiu varios gadgets super bacanas com um amigo nosso, experiente em acampamentos: um fogaozinho, um saco a prova d'agua, corda para fazer o "bear-bag", lona e ate um filtro portatil com duas garrafas.
No dia, quarta-feira as 6:30 da manha, levantei da cama para encontra-lo completamente vestido, bem humorado e pronto para a aventura. Seus olhos brilhavam de alegria! "Linda, levanta! Vamos, vamos! Vai ser otimo!".
Alugadas as canoas, estavamos prontos para embarcar. E la fomos nos! Pedro no stearing, eu sentada no meio da canoa e o Michael na frente, estilo desbravador das lagoas, remando pelo lago cercado de pinheiros de todos os tamanhos. Tres portagens e 4 horas e meia depois, chegamos no local reservado para armarmos acampamento: um terreno inclinado, arborizado, regado por um lago, com uma ilha logo a frente. O lugar da fogueira ja estava pronto e armamos as barracas em tres niveis devido ao barranco. A nossa ficou no "ultimo andar", perto de onde ficava o "tunderbox", a fossa (ate simpatica) do nosso camping site que tinha a vista privilegiada de todo o lago.
Com a primeira noite veio dos ceus tambem a primeira provacao: a chuva. A chuva que apagou nossa fogueira e nos levou todos para as respectivas barracas, prontos para uma boa noite de sono em nossos novos sacos de dormir. Foi ai que percebemos pequenas gotinhas de agua penetrando o irredutivel tecido externo do nosso abrigo. Panico! Chuva gelada molhando nossos sonhos? E la estavam elas, duas insistentes gotas que teimavam em querer afogar nossa alegria. Exaustos, dormimos para acordarmos no outro dia e percebermos que de fato, aquelas duas gotinhas foram unicas e que a chuva nao durou muito.
O outro dia foi seguido de mais canoagem, jogging em uma das portagens, horas bombeando o filtro de agua, marshmalows na fogueira (claro, tudo tem um lado bom) e, como nao poderia deixar de ser, a segunda provacao: o frio. O banho gelado (pois o chuveiro solar so funcionou quando de fato havia sol) e a falta de roupas apropriadas me fez congelar o dia inteiro (com excecao de quando estava jogging) e jurar para mim mesma que nunca mais iria acampar de novo na vida.
Mas ai o terceiro dia veio. Ceu azul, sol raiando e a possibilidade de finalmente poder usar uma das roupas que trouxe (todas de verao) me deixaram bastante entusiasmada. Um jogo de cartas, uma soneca e varias paginas do meu livro depois, acordei para um por do sol inesquecivel em que o sol se escondia por tras dos pinheiros e tudo que consegui pensar foi o quao feliz que era por poder ter visto e vivido o que vivi. Percebi que esse dia havia sido perfeito e a perfeicao dele me deixou nao somente mais aberta as criticas que vinha recebendo, bem como aos defeitos dos meus colegas campistas (dois deles eram flatulentos inveterados).
Quando comecei a apreciar a experiencia, esta chegou ao fim. Era hora de empacotar, desarmar, carregar e, claro, canoar. Mas depois de tantos dias canoando, percebi que remar nao era tao torturoso assim: meus bracos haviam se acostumado ao esforco e sinceramente senti prazer nas 5 horas e meia remando contra o vento.
E claro que a visao da minha cama (agora ja vendida) e de todo o conforto do meu lar me deixaram ainda mais animada a remar. Mas a tranquilidade, o contato com a natureza e seus sons me mostraram que nada, nem a chuva, o frio ou a falta do que fazer sao motivos para nao aproveitar o que o camping tinha de melhor: a companhia, os chipmonks que vieram comer na minha mao, os ratinhos saltitantes que nos visitavam a noite e os sons maniacos dos loons, cantando na madrugada adentro.
Foi bom.
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