O Enterro Lituano
A avo da Paula morreu numa quarta-feira de primavera, naqueles dias em que se esta tao ocupado que nao se imagina que alguem poderia resolver morrer em hora tao inoportuna.
A Paula coitada, ficou tao abatida que nem comentou. Organizou o velorio, avisou aos pais que moram no norte (do Canada) e continuou o experimento que estava pela metade. Ficou para o Pedro entao notificar aos amigos o falecimento da velha.
Com quase 100 anos de idade, a D. Petronela havia nascido na Lituania e imigrado para o Canada de casamento ja arranjado com um conterraneo que havia imigrado ha mais tempo. Viuva ha muito tempo, soube-se durante o velorio que ela ja havia pago pelo seu enterro e velorio ha quase 25 anos. Ate os arranjos de flores, o carro funerario e o padre - que so falou lituano o tempo todo, apesar de a grande maioria dos presentes so falar ingles - tinham sido providenciados por ela.
E la estavamos nos, o Michael de terno e eu com uma das minhas unicas roupas pretas, sentados na capela da agencia funeraria, ouvindo o padre rezar o que devia ser a Ave Maria em uma lingua estranha. Todos se entreolhavam, tive a impressao correta de que ninguem estava entendendo nada. Ja no outro dia, passada a comitiva para o cemiterio e tudo mais - uma licao de civismo e organizacao, na minha opiniao - la estavamos nos de novo: o Michael de terno e eu de roupas pretas assando debaixo do sol de Junho e ouvindo as preces incompreensiveis do padre lituano.
No almoco depois do enterro, refleti porque nunca fui ao asilo onde ela morava para visita-la (a Paula a visitava religiosamente todos domingos). O Michael mesmo havia ido uma vez com o Pedro. Acho que ela era tao cheia de energia, forca e vida que nunca imaginei que fosse morrer tao rapido.
D. Petronela, teria sido bom se tivessemos nos conhecido. Fica para a próxima.